quarta-feira, 13 de março de 2013

Um amor de filha


A Maria é meiga, super carinhosa, inteligente e sensível. Dá beijinhos e adora mimar as outras crianças. Segunda feira voltou a estar em contexto de grupo, num Jardim de Infância e, mais uma vez, deu provas disso.
Acontece que a Maria também faz birras, também esperneia, também grita e também já aconteceu levantar a mão a quem a provoca ou contraria. Já me envergonhou em situações fora de casa, como no banco ou supermercado. Longe vai o tempo em que a Maria mexia no que não devia e parava assim que eu dizia "Não! Maria, não mexe". E longe vai o tempo em que as pessoas diziam "deixe estar. Não faz mal, pode mexer".  Actualmente é mais do género "Maria, não mexe" e a resposta dela é invariavelmente "a Maria está a ver uma coisa" ou "a Maria está a ver um documento importante" ou "a Maria está a fazer um trabalho para a escola" ou, tratando-se de computadores "a Maria está a escrever um email" (...)Para aumentar a minha frustração, a Maria começou a gritar há "pouco" tempo. Não sei precisar há quanto tempo, mas sei que intensificou esta forma de expressão há muito pouco tempo. Também não sei se terá a ver com o facto da prima (10 meses mais nova) gritar, sempre que a Maria se aproxima com a intenção de lhe tirar um brinquedo ou o que quer que ela tenha. Por mais que lhe explique, por mais que me esforce, ainda não consegui que ela compreendesse e sempre que estão juntas, a alegria é vivida na mesma proporção que os gritos e o desejo de possuir o que a outra tem. Apesar de tudo, sempre considerei que esta é uma fase normal e que passará bem mais rápido e da melhor forma quando encarada por nós, adultos, com uma boa dose de paciência. O que nem sempre é fácil. 
O problema (e este sim é um problema) é quando te dizem:
- a tua filha está pior (referindo-se às birras, penso eu)
- a tua filha não pode fazer o que quer/não podemos ceder a tudo
- a tua filha precisa de regras 
- a tua filha está mesmo a precisar de ir para a escola/Jardim.

Em relação ao primeiro e porque foi associado ao facto do pai estar fora, em nada podíamos alterar isso. É importante para a carreira do pai e eu estaria extremamente triste caso ele não tivesse decidido fazer esta viagem. As saudades apertam, como é evidente,  mas por outro lado reforça o amor que nos une (pai/mãe/filha). Mal posso imaginar o dia em que nos abraçamos de novo.
No que diz respeito ao segundo queria poder dizer que eu não cedo a tudo. De maneira alguma. Eu contrario e devo ser das pessoas que menos cede. Mas num contexto em que tenha total liberdade de acção, como a minha casa. Num contexto  em que há sempre a possibilidade de alguém intervir, por vezes chamando a atenção ou reprovando as minhas estratégias de intervenção é muito mais difícil. É um verdadeiro sufoco. E a Maria deve perceber isso, daí provocar mais, gritar mais e abusar mais. 
Quanto às regras... De repente fiquei com receio de ter falhado neste ponto. Se a Maria não tem regras e já tem 29 meses, então aqui devo assumir uma grande responsabilidade. Mas não acredito que não as tenha.
Finalmente, o Jardim de Infância. É algo que também quero muito, por variadíssimas razões, mas que para o bem e para o mal ainda faltam seis meses. Portanto, o que eu quero e do que eu preciso, numa altura em que também eu estou demasiado sensível, é de compreensão. De carinho e afecto redobrados. De espaço. De tempo e de boas palavras. De perceber que afinal estar há nove meses 24h sobre 24h com a minha filha tem sido uma experiência altamente enriquecedora e não o contrário. Tem-me feito crescer como mãe e tem desenvolvido nela capacidades e sentimentos que de outra forma não seria possível. Também me tem feito ver o quanto difícil é estar com os filhos tanto tempo. Tem-me feito ver que a responsabilidade de criar um filho é nossa e de mais ninguém. Todas as ajudas são bem-vindas, mas são ajudas, porque a responsabilidade maior é nossa. É minha. Ainda assim tem-me feito ver que é disto que eu gosto e é isto que eu quero. Muito. Do que eu preciso é de saber que estou a fazer o trabalho certo. E agora deixem-me chorar, mas do que eu precisava mesmo era fazer uma birra. Queria tanto poder espernear, atirar-me ao chão e gritar. Era disto que eu precisava, neste momento. Por isso, ninguém melhor do que eu para perceber o descontentamento que provoca uma birra, na minha filha. Também eu as tenho,  porque do que eu precisava era que percebessem que assim não ajudam (nada) e desta forma em nada poderei ajudar a minha filha. Do que eu precisava era de calma, espaço e compreensão. Do que eu precisava era de ter trabalho e o meu marido aqui ao lado. Mas como isso não e possível, por enquanto, só preciso que não compliquem.



[São seis e meia da manhã. Vale-nos este dia que parece querer brilhar. Bem-vindo sol. E bem-vindo Trinta que tão bem me fazes]

7 comentários:

  1. Oh minha querida, um grande beijinho!

    Sei tão bem o que estar sózinha e tomar conta do barco... E claro que ouvimos sempre o que nos dizem, mas só tu sabes o que é melhor para ti e para a Maria. E tenho a certeza que estarás a fazer um excelente trabalho! A Maria faz birras, não tem regras, etc, etc... e depois? Também vive uma situação diferente de muitas crinças que têm os 2 pais em casa. Ela terá o seu tempo de crescer, ao ritmo dela, da sua realidade.

    Não desanimes!
    Um beijinho*

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  2. Nao nos conhecemos, mas compreendo perfeitamente a situaçao. Animo e coragem, amanha vai ser melhor. :)

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  3. Não desanimes. Tu, melhor do que ninguém, sabes o que é melhor para a Maria. E toda a gente, sem más intenções, terá sempre uma palavra a dizer em relação à educação dos nossos filhos. E se com um pai e uma mãe em casa já não é fácil educar e estar sempre disponível e com paciência nem quero imaginar sozinha. E quando te apetecer chorar, chora!! O duche é óptimo para lavar o corpo e a alma e saímos de lá novas. Bjs

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  4. Oh querida não gosto nada de te ler desta forma, sempre foste e és uma mulher de armas que nunca baixa os braços na luta pelo que sempre acreditas. É mais uma fase dura que vais enfrentar, o que os outros dizem e que te magoa, devaloriza, quem não vive não sente, nem sabe tão pouco, como é, o que dizem são especulações, pois cada um vive e sente de forma diferente. E cada uma de nós bem sabe o que é melhor e pior para os nossos filhotes. A Maria tá na fase de testar tudo à sua volta, não são falta de regras, de educação, de pai muito menos, a Maria está sim a viver de forma feliz e intensa a sua meninice e isso sim é que importa! E deixa dizer-te apesar do lado menos bom (não teres emprego) é um previlégio passar os fias com ela, acredita que faz muita diferença! E isso nota-se minha linda!Um beijinho e um xi apertadinho!

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  5. todo este texto só demonstra que és uma grande mulher, uma excelente mãe! Eu acredito que faz muita falta a uma criança ter os dois pais por perto, há sempre um que ela respeita mais, normalmente o que lida menos com ela. Mesmo por vezes que um pai não tenha muito tempo para ajudar, está lá, e a sua presença "impõe" respeito à criança. Portanto, aguenta com calma, quando o teu marido chegar será um apoio maior, a Maria ficará mais calma. As crianças adoram as mães, mas é também com elas que fazem as maiores birras. E pensando bem é isso que acontece connosco, não é? Ora vejamos se não é com a pessoa que mais amamos, que damos mais mimos e amor, mas também em quem por vezes descarregamos as nossas frustrações e maus humores... Pelo menos comigo é. E é assim que eu tento pensar! A minha filhota está com 16 meses, é um doce, muito querida, mas à pouco tempo começou a ficar muito activa... Ontem fomos passear a umas lojas e foi duro enquanto não dormiu no carrinho. faz um sucesso, diz adeus às pessoas que passam por ela, vai a correr atrás das crianças e de ovinhos de bebé, mete-se com as pessoas, toda a gente lhe acha imensa graça... Mas está pesada demais para andar ao colo (corri uma loja toda ora com dela ao colo, ora com ela a fugir pelos corredores e eu com medo de ficar em despesas). Já no carrinho de passeio, consegue soltar-se dos cintos, e põe-se em pé em cima da cadeirinha, faz mil e um malabarismos e rodopios, e eu seguro o carro e seguro-a a ela... Começo a ver que é impossível de ir com ela às compras, felizmente o que me vale são as avós que ficam com a menina, sem elas não sei como seria! mas eu tenho pena, gostava de sair mais vezes com ela, pensava que com esta idade ela ainda seria uma menina sossegadinha. Se é assim toda comunicativa e mexida antes de ir para a escolinha, imagino quando estiver rodeada de crianças... só espero que acalme :) Curioso que com a prima, 8 meses mais nova, é cautelosa.
    Bom, tem calma e força. Não ligues ao que dizem... nós mães estamos sempre sujeitas a comentários chatos, quer de pessoas mais velhas que já não se lembram o que é ter uma criança pequena(apesar de pensarem que sim), ainda por cima nesta nova era das tecnologias em que tudo os estimula, quer de pessoas mais novas que ainda não têm filhos ou estão para ter, mas na sua mais profunda ignorância gostam de mandar bitaques. Eu acho que o ideal é convivermos nesta fase com amigas mamãs de pequenas crianças como as nossas, ninguém nos compreende melhor, o que nos ajuda também a ver que não somos as únicas nesta fase exigente das nossas vidas, e fazer os possíveis para não ligarmos ao que nos dizem! cada mãe, desde que tenha muito amor para dar, acho que já o seu papel fundamental na educação do seu filho! Eu ultimamente confesso que não sei como explicar à minha filha que não deve fazer isto ou aquilo... Já experimentei várias coisas que parecem não resultar, mas acredito que à medida que eles vão crescendo, a nossa capacidade de comunicação vai-se tornando cada vez mais clara e as regras vão-se impondo! Um grande grande beijo e um xi-coração!

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  6. Ninguém disse que era fácil, pois não?
    e eles mudam, crescem, testam, querem mais, sabem mais e melhor de tudo, procuram coisas novas porque tudo isso faz parte do crecsimento. Claro que, sozinha e mais vulneravel atua tolerãncia é outra e os comentários de "treinadores de bancada" são tudo o que não se quer!
    mete a mão na consciência e faz o que ela te diz, se achas que estás a dar o teu melhor segue em frente e, s eachas que alguma coisa tem de mudar (as tais regras) estás mais que a tempo!!
    beijinho

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  7. não te preocupes se todos olhássemos para os nossos nao tínhamos tempo de criticar os dos outros. eu tenho uma cunhada que para todos os mais comportamentos dos miudos dela tem una doença associada: acredita tem doenças que nunca ouvi falar !!!!

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