A Maria é meiga, super carinhosa, inteligente e sensível. Dá beijinhos e adora mimar as outras crianças. Segunda feira voltou a estar em contexto de grupo, num Jardim de Infância e, mais uma vez, deu provas disso.
Acontece que a Maria também faz birras, também esperneia, também grita e também já aconteceu levantar a mão a quem a provoca ou contraria. Já me envergonhou em situações fora de casa, como no banco ou supermercado. Longe vai o tempo em que a Maria mexia no que não devia e parava assim que eu dizia "Não! Maria, não mexe". E longe vai o tempo em que as pessoas diziam "deixe estar. Não faz mal, pode mexer". Actualmente é mais do género "Maria, não mexe" e a resposta dela é invariavelmente "a Maria está a ver uma coisa" ou "a Maria está a ver um documento importante" ou "a Maria está a fazer um trabalho para a escola" ou, tratando-se de computadores "a Maria está a escrever um email" (...)Para aumentar a minha frustração, a Maria começou a gritar há "pouco" tempo. Não sei precisar há quanto tempo, mas sei que intensificou esta forma de expressão há muito pouco tempo. Também não sei se terá a ver com o facto da prima (10 meses mais nova) gritar, sempre que a Maria se aproxima com a intenção de lhe tirar um brinquedo ou o que quer que ela tenha. Por mais que lhe explique, por mais que me esforce, ainda não consegui que ela compreendesse e sempre que estão juntas, a alegria é vivida na mesma proporção que os gritos e o desejo de possuir o que a outra tem. Apesar de tudo, sempre considerei que esta é uma fase normal e que passará bem mais rápido e da melhor forma quando encarada por nós, adultos, com uma boa dose de paciência. O que nem sempre é fácil.
O problema (e este sim é um problema) é quando te dizem:
- a tua filha está pior (referindo-se às birras, penso eu)
- a tua filha não pode fazer o que quer/não podemos ceder a tudo
- a tua filha precisa de regras
- a tua filha está mesmo a precisar de ir para a escola/Jardim.
Em relação ao primeiro e porque foi associado ao facto do pai estar fora, em nada podíamos alterar isso. É importante para a carreira do pai e eu estaria extremamente triste caso ele não tivesse decidido fazer esta viagem. As saudades apertam, como é evidente, mas por outro lado reforça o amor que nos une (pai/mãe/filha). Mal posso imaginar o dia em que nos abraçamos de novo.
No que diz respeito ao segundo queria poder dizer que eu não cedo a tudo. De maneira alguma. Eu contrario e devo ser das pessoas que menos cede. Mas num contexto em que tenha total liberdade de acção, como a minha casa. Num contexto em que há sempre a possibilidade de alguém intervir, por vezes chamando a atenção ou reprovando as minhas estratégias de intervenção é muito mais difícil. É um verdadeiro sufoco. E a Maria deve perceber isso, daí provocar mais, gritar mais e abusar mais.
Quanto às regras... De repente fiquei com receio de ter falhado neste ponto. Se a Maria não tem regras e já tem 29 meses, então aqui devo assumir uma grande responsabilidade. Mas não acredito que não as tenha.
Finalmente, o Jardim de Infância. É algo que também quero muito, por variadíssimas razões, mas que para o bem e para o mal ainda faltam seis meses. Portanto, o que eu quero e do que eu preciso, numa altura em que também eu estou demasiado sensível, é de compreensão. De carinho e afecto redobrados. De espaço. De tempo e de boas palavras. De perceber que afinal estar há nove meses 24h sobre 24h com a minha filha tem sido uma experiência altamente enriquecedora e não o contrário. Tem-me feito crescer como mãe e tem desenvolvido nela capacidades e sentimentos que de outra forma não seria possível. Também me tem feito ver o quanto difícil é estar com os filhos tanto tempo. Tem-me feito ver que a responsabilidade de criar um filho é nossa e de mais ninguém. Todas as ajudas são bem-vindas, mas são ajudas, porque a responsabilidade maior é nossa. É minha. Ainda assim tem-me feito ver que é disto que eu gosto e é isto que eu quero. Muito. Do que eu preciso é de saber que estou a fazer o trabalho certo. E agora deixem-me chorar, mas do que eu precisava mesmo era fazer uma birra. Queria tanto poder espernear, atirar-me ao chão e gritar. Era disto que eu precisava, neste momento. Por isso, ninguém melhor do que eu para perceber o descontentamento que provoca uma birra, na minha filha. Também eu as tenho, porque do que eu precisava era que percebessem que assim não ajudam (nada) e desta forma em nada poderei ajudar a minha filha. Do que eu precisava era de calma, espaço e compreensão. Do que eu precisava era de ter trabalho e o meu marido aqui ao lado. Mas como isso não e possível, por enquanto, só preciso que não compliquem.

[São seis e meia da manhã. Vale-nos este dia que parece querer brilhar. Bem-vindo sol. E bem-vindo Trinta que tão bem me fazes]